Quando se faz um curso de bacharelado e licenciatura teoricamente há a escolha entre lecionar ou atuar enquanto pesquisador, contudo no espaço da história, que no Brasil não possui a função de historiador reconhecida, e onde a cultura patrimonial ainda esta sendo “descoberta” ouvimos se repetir o discurso de que estamos fadados a ser professores, não nosso fardo é maior ainda, ser professores numa escola publica onde o teto esta desabando, onde os alunos se esfaqueiam e os professores vendem drogas.
O quadro descrito me lembra o filme “Lean on Me” ou na tradução em português “Meu mestre, minha vida”, mas a vida real é muito mais complexa e dinâmica do que um filme, não existem nas salas de aula reais alunos bonzinhos e alunos malvados, professores heróis e professores vilões.
Na vida real existem alunos desmotivados, negligenciados pelos pais e o com dificuldades de aprendizagem, alunos que possuem condições estruturais mais favoráveis, professores sindicalizados e que ainda possuem sonhos utópicos e professores desmotivados, desacreditados com o baixo salário e o pouco ou nenhum reconhecimento.
Bom, mas o foco hoje é o professor, e embora ainda não tenha ficado explicito, o professor de história. Primeiro devemos compreender que todo professor de história é também um historiador, assim como todo historiador deveria ser também professor.
Segundo, o professor de história possui um papel importante no papel de socialização comentado no post anterior, como já foi lembrado brevemente aqui nesse blog.
Os jovens hoje se perguntam, “para que estudar história se já é tudo passado?”, eles possuem uma relação distante com a disciplina de história pois não vêem conexões entre ela e o mundo onde vivem atualmente. E é ai que entra o professor de história...
O professor de história deve buscar aproximar esse passado tão remoto da realidade de seus alunos, mostrar a eles que muitas questões atuais eram discutidas antigamente e que esses povos e acontecimentos antigos na verdade estão mais próximos do que pensamos.
O professor historiador – no sentido de que constrói a história quando organiza seus conteúdos a ser ensinados e no próprio processo de transmissão e troca em sala de aula – é peça chave na transmissão da memória social e a través de sua disciplina pode levar os alunos a perceber que até mesmo essa memória social sofre alterações intencionais para servir determinados interesses, muito mais do que somente transmitir a memória social o professor de história leva os alunos a questioná-la e se tornarem conscientes que também estão inseridos nessa memória, assim como na história.
O professor historiador também transmite valores que influenciam o comportamento e atitude dos alunos – na verdade esse é um papel que todos os professores cumprem – mas o professor historiador na disciplina de história tem a possibilidade de discutir a alteração desses valores no tempo e no espaço, como se dá essa mudança e por que.
Dentro do papel de socialização assumido pela escola o professor de história se torna vital quando ele entende que para além de decorar datas, fatos e historinhas engraçadas sobre os grandes personagens históricos, ele tem a prerrogativa de tornar seus alunos conscientes e atuantes no processo histórico, cabe a ele desmistificar a idéia de grandes atores históricos e impulsionar os alunos a construir sua própria história.
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